Ele jamais poderia esquecer-se de seus olhos, seus cabelos, seu
sorriso. Da forma como ela falava parecendo sussurrar como um vento cálido em
uma noite de verão e de como seus dedos finos acariciavam seu cabelo fazendo-o
rapidamente pegar no sono.
Ela estava
seguramente gravada em cada célula sua e em cada canto daquela casa com chão de
madeira polida e telha vermelha, emoldurada pelo pequeno jardim que transpirava
a sua essência por sua grama meticulosamente aparada e um canteiro que parecia
conter uma, e apenas uma, de cada flor existente.
Era engraçado como
ela parecia querer e fazer tudo na medida exata obsessivamente e não descansava
enquanto assim não o fosse. E ele a amava com todas as suas pequenas manias,
porque isso a tornava especial e única.
Ele ainda podia
ver seus vinis do Led Zeppelin arrumados em ordem crescente de ano de
lançamento e seus livros devidamente separados por autor e gênero na estante,
além de sua coleção de incontáveis cartões postais de cada canto do mundo - que
ele não fazia ideia de como ela havia conseguido - pregados no mural que ela o
fizera construir. Ela parecia ter um carinho especial por eles, mesmo que para
ele não passassem de papel usado. E quando lhe dizia isso, ela brigava e dizia
que eles continham fragmentos de saudade. Que serviam para acalmar corações que
sofriam pela distância e que de uma certa forma, lhe traziam algo de paz.
E ele só desejava
que ela tivesse ao menos deixado isso para trás para que suavizasse o imenso
buraco que ficara nele e que matasse um pouco que fosse dessa saudade que
manchava seu rosto com lágrimas e comprimia seu peito de uma forma que respirar
se tornava impossível.
Restava-lhe apenas
arrastar-se pela vida, escapando do desespero, e esperar por um adeus tardio.
Um olhar atrás. Ou mesmo um cartão postal. E que ele pudesse então, começar sua
própria coleção de saudade.
- Débs
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