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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Cartão Postal.


Ele jamais poderia esquecer-se de seus olhos, seus cabelos, seu sorriso. Da forma como ela falava parecendo sussurrar como um vento cálido em uma noite de verão e de como seus dedos finos acariciavam seu cabelo fazendo-o rapidamente pegar no sono.

Ela estava seguramente gravada em cada célula sua e em cada canto daquela casa com chão de madeira polida e telha vermelha, emoldurada pelo pequeno jardim que transpirava a sua essência por sua grama meticulosamente aparada e um canteiro que parecia conter uma, e apenas uma, de cada flor existente.

Era engraçado como ela parecia querer e fazer tudo na medida exata obsessivamente e não descansava enquanto assim não o fosse. E ele a amava com todas as suas pequenas manias, porque isso a tornava especial e única.

Ele ainda podia ver seus vinis do Led Zeppelin arrumados em ordem crescente de ano de lançamento e seus livros devidamente separados por autor e gênero na estante, além de sua coleção de incontáveis cartões postais de cada canto do mundo - que ele não fazia ideia de como ela havia conseguido - pregados no mural que ela o fizera construir. Ela parecia ter um carinho especial por eles, mesmo que para ele não passassem de papel usado. E quando lhe dizia isso, ela brigava e dizia que eles continham fragmentos de saudade. Que serviam para acalmar corações que sofriam pela distância e que de uma certa forma, lhe traziam algo de paz.

E ele só desejava que ela tivesse ao menos deixado isso para trás para que suavizasse o imenso buraco que ficara nele e que matasse um pouco que fosse dessa saudade que manchava seu rosto com lágrimas e comprimia seu peito de uma forma que respirar se tornava impossível.

Restava-lhe apenas arrastar-se pela vida, escapando do desespero, e esperar por um adeus tardio. Um olhar atrás. Ou mesmo um cartão postal. E que ele pudesse então, começar sua própria coleção de saudade.




- Débs

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