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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Alívio.

Densas nuvens estampam o céu noturno numa dança lenta e contínua enquanto as pequenas gotas da chuva anunciada maculam impiedosamente fachadas e rostos e roupas desprotegidos.

Apesar da tormenta evidente, o mundo abaixo não para, talvez não podendo dar-se ao luxo de interromper o seu habitual ir e vir atendendo ao capricho da natureza que insiste em escolher o justo momento para despejar toda a água cuidadosamente colhida em cada pôr e nascer de sol durante dias a fio, como se estivesse mais que ansiosa em livrar-se de todo fardo acumulado.

Tal cena repete-se rigorosamente, embora em menor escala, no interior da pequena casa totalmente destoante da selva de pedras no centro da cidade. Uma indefesa rosa, inabalável em meio ao mar de plantas nocivas e espinhentas.

As lágrimas rolam incessantes pela face doentiamente pálida através do olhar negro como a noite afora, trazendo proporcional alívio com o seu derramar, fazendo parecer que a causa de toda a angústia é nada mais que lágrima retida por tempo demais. Não que esteja errado.

As pernas estiradas no piso, os braços apertados contra o corpo e a esperança seguramente guardada no peito como uma brasa recém apagada que, com o estímulo certo, reacende e se torna chama viva. A certeza de que o amanhecer seja belo, limpo e novo depois da atual tempestade.



- Débs

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