Insistentes raios de sol incidem sobre seu rosto, mas não abre os
olhos, não pode. Há escuridão demais, sofrimento demais ofuscando a luz de si
mesma. E doí. Não uma dor física, porque já perdera a tempos tal capacidade
humana, mas a dor daqueles que sabem que estão perdidos e que não há caminho de
volta. E vem o medo de não existir mais. Medo de perder-se entre as mil
faces de si mesma, de nunca mais ser a mesma de antes - aquela a qual ela
gostava mais.
Respira fundo sentindo o ar quente de verão preenchendo seus
pulmões e sente falta de correr por aí descalça sentindo a grama molhada entre
os dedos. Isso não lhe é permitido mais. Porque esse mundo não é um mundo para
os que esqueceram-se de crescer. É um mundos dos grandes. Um mundo do clássico,
não da cantiga.
Seus olhos agora abertos, são vidraças embaçadas de uma casa
escura e empoeirada, cujos muitos habitantes estão cansados demais para arrumar
a bagunça e apenas ficam por lá, existindo. Porque viver atrai sentimentos que
se tornam armadilhas fatais. E existir dá menos trabalho, pois não precisa
juntar os cacos a cada vez que o coração se rompe. Porque apenas existindo, não
se existe mais.
- Débs
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